Vem e Vê

Cada ser humano é chamado por Deus à vida numa vocação concreta. Assim também cada Irmã Dominicana de Santa Catarina de Sena tem a sua história vocacional.
Realiza-se como pessoa e como cristã, no seguimento de Jesus, vivendo em comunidades fraternas.
Diferentes na origem, na cultura, no temperamento, na idade e no serviço vivem como membros da mesma família.
Desenvolvem uma missão comum na prática das obras de misericórdia, respondendo aos desafios de cada tempo e lugar.
Testemunhos
Catarina Samba
Eu sou a Irmã Catarina Samba, Angolana. Sou a mais velha de uma família de 4 irmãs.
Faço minhas, as palavras do Evangelista.
Não fostes vós que me escolhestes, fui Eu que vos escolhi(Jo 15, 16)
Agradeço a Deus o dom precioso de minha vida, esta vida que recebi de presente e pela qual me sinto responsável. Agradeço também todos os momentos felizes e porque não os de sombras? Muito aprendi com eles, muitos valores guardo e muitas vitórias conquistei.
Jesus foi sempre o motivo e a razão da minha caminhada. Por isso, os 17 anos da minha consagração a Deus, reduzem-se a nada neste caminho de entrega. Cada dia que passa, procuro renovar o meu Sim, como se fosse o primeiro, para acolher a novidade e a gratuidade de Deus, através de muitas mediações e circunstâncias ao longo de cada dia.
Estou feliz por me consagrar a Deus e ser uma Dominicana de Santa Catarina de Sena, dando continuidade à obra da nossa querida Madre Fundadora Teresa de Saldanha. Faço minhas as palavras da Madre Fundadora "Não há maior felicidade do que ser toda de Deus".

Fazendo uma retrospectiva vejo que a minha vida e a minha vocação, são uma graça de Deus. Ele escolheu-me, sem mérito algum de minha parte. Escolheu-me por amor. E isto é para mim motivo de louvor a cada momento que passa. Digo como o Salmista: "O seu louvor estará sempre na minha boca".
Dou graças pela minha experiência Missionária. Aproveito agradecer à Congregação a confiança que em mim depôs, a todas as Comunidades por onde passei e, especialmente, à Província de Santa Cruz Brasil.
Agradeço também o testemunho de cada Irmã, que através da própria vida me revela que vale a pena seguir e fazer a Vontade de Deus a todo instante.
Por isso, aqui estou com a graça de Deus, que faz com que a minha chama de fé, esteja sempre acesa e fortalecida na essência inesgotável e termino com as palavras de S. Paulo:
tudo posso naquele que me fortalece.
Flávia
Chamo-me Flávia das Dores Falé Lourenço sou de Reguengos de Monsaraz. A Vocação é uma resposta concreta a Alguém que nos chama - Deus. A primeira vez que me pareceu ouvir a Sua voz tinha eu uns 11 anos. Fui pela 1ª vez a Fátima, com um grupo de Irmãs. Fiquei na sua casa. Aquela alegria e fraternidade, apesar das diferenças, encantou-me! Ao chegar a casa disse à minha mãe que queria ser freira. Ela ouviu-me e disse-me que crescesse primeiro.
Cresci! Sonhei com imensas coisas… Desejei ser missionária… Ser voz dos sem voz, mas com a liberdade dos leigos, de quem gere a sua vida… Percebia que Deus me chamava, mas sentia o desejo de muitas outras coisas.
Vivia mergulhada em actividades pastorais e, quando tive de deixar algumas, ocupei-me logo da Pastoral Universitária na Diocese do Algarve. Rezava e pensava no muito que já fazia por Deus e pela Igreja, na tentativa de calar aquela voz que me dizia:
deixa tudo e segue-Me!Um dia, convidaram-me para um retiro de fim-de-semana, com outras Irmãs. Aceitei. Fui sozinha. Confesso que ia na esperança de descobrir que era engano! No meu coração acabei por dizer que sim! Apesar de ainda não acreditar!
Convidaram-me a entrar, a fazer uma experiência nessa Congregação. Isso chocou com o meu desejo de liberdade! Queria ganhar tempo, queria acabar o curso, queria ver se Deus se esquecia de me chamar! Como desculpa disse que queria conhecer as Dominicanas.
Na quinta-feira seguinte, saí com uns colegas: a volta aos bares e discoteca até de manhã. Era a minha última tentativa de mostrar a Deus, na minha "ingénua arrogância", que Ele estava enganado! Foi uma saída normal, dancei toda a noite, mas no meu coração não podia apagar aquela voz de Deus! Pela primeira vez entendi o Cântico de Jeremias:
Seduziste-me Senhor…Abandonar a Universidade não me parecia ser a vontade de Deus. A minha opinião era reforçada pela do meu pároco, que achava ser importante viver essa entrega a Deus no meu ambiente. Assim se seguiram os últimos anos do Curso.
Escrevi à Provincial das Dominicanas, (que é a Irmã Responsável pelas Irmãs desta Congregação em Portugal) e me incentivou a acabar o curso. Comecei a ir a encontros de jovens com estas Irmãs, que me aconselharam a conhecer e a fazer voluntariado na Casa Nossa Senhora da Conceição em Portimão, um Internato de Crianças e Jovens, onde há uma comunidade.
A minha vida foi mudando, mas as saídas não acabaram, continuei a sair à noite, sempre que se justificava, sobretudo em comemorações festivas com os amigos, mas deixaram de ser frequentes e de ser uma necessidade.
Eu era a Coordenadora de um grupo de Pastoral Universitária. Nós reuníamo-nos, normalmente, uma hora, no final do dia para oração. A partilha espontânea dos meus fins-de-semana com as irmãs despertou, em todo o grupo, o desejo do voluntariado.

Nunca pensei poder trabalhar numa instituição, fui percebendo que o jeito daquelas Irmãs era o meu. Isso dava-me paz, mesmo nas situações difíceis e complicadas. Aprendi a articular a actividade e a oração como parte integrante do meu quotidiano. Foi uma das experiências e descobertas mais bonitas da minha vida.
Muito mais coisas, poderia dizer, mas, no geral a minha mudança foi grande, gradual e num período de tempo, relativamente longo. A minha família e amigos foram percebendo que eu tinha mudado, que estava feliz e realizada.
Entrei para o postulantado, (a primeira etapa obrigatória da formação, segundo o Direito Canónico) no último ano do curso, aquando do estágio. Depois fiz os dois anos de noviciado. Assumi o compromisso dos votos, na experiência de que a verdadeira liberdade passa pelo coração disponível à vontade de Deus.
Depois de 10 anos, sei que vale a pena confiar em Deus, porque como dizia Teresa de Saldanha:
Deus colocou no meu coração ambições maiores do que tudo o que posso chamar grande!É o amor de Deus que me desafia e conduz!
Demirleny Ferreira dos Santos
Chamo-me Demirleny Ferreira dos Santos. Nasci no Brasil em 1978.
Venho de uma família simples que orientou os seus filhos na fé da Igreja Católica.
Em casa, com minha mãe, comecei a estudar o catecismo.
Quando tinha 8 anos a mãe levava-nos todos os fins de semana aos encontros de catequese. Aos dez anos chorei imensamente porque a minha turma ia fazer a primeira Comunhão e eu não tinha completado os meus onze anos, que era a idade própria.
Fui falar com o padre implorei e chorei...Então ele disse que teria de sujeitar-me a uns testes. Passei por duas provas.
Neste período de tempo o meu pai afastou-se da Igreja e não nos deixava frequentar as celebrações. Eu chorava, implorava para ir. Acabou por deixar que minha mãe nos levasse. Disse então que não queria que eu fizesse a primeira comunhão.
No entanto, acabou por comprar todo uniforme - roupa e calçado. E, para minha surpresa, quando estava na fila para receber Jesus, vi os meus pais, fiquei muito feliz. Depois o meu pai nunca mais se afastou da igreja.
Neste período já continha em meu coração o desejo de ser Religiosa, mas não comentava com ninguém.
Depois que recebi Jesus na Eucaristia este desejo era sufocante, tentei esconder-me ou até fugir das pastorais, envolvendo-me no trabalho...
Nada adiantou, a chama crescia, ardia no meu coração. Voltei para as pastorais e lancei-me a trabalhar na comunidade - catequese, encontros com os jovens, responsável pela capela de onde meus pais moravam, etc.
Tive um namorado e quando surgiu conversa de casamento pedi um tempo para conhecer a vida religiosa. Fui procurar o meu confessor que me orientou, mostrando-me vários tipos de congregações. O meu confessor pediu-me que esperasse um tempo para entrar na vida religiosa para ver se realmente este era o meu caminho.

Fiquei, acompanhada por quatro anos, não tinha coragem de sair de casa e deixar meus pais e irmãos. A minha mãe estava frágil de saúde. Esperei que ela fizesse a cirurgia e só depois de um ano entrei para ficar. Neste intervalo fiz o crisma. Neste período passei por dificuldades. Meus tios, avô, irmãos, meu pai não aceitava minha decisão. Não parei, fui em frente.
Meu pai respeitou a minha decisão quando disse o dia da viagem. Disse-me: filha eu e sua mãe vamos ficar à sua espera, quando quiser voltar a casa está aqui.
Amo a minha família, amo a vida religiosa e com a graça de Deus aqui quero morrer, ser toda e somente de Jesus.
Entrei no Aspirantado no dia 02 de fevereiro de 2004 e em fevereiro de 2009 fiz a minha primeira profissão.
Hoje sou muito feliz na vida religiosa, encontrei muitas dificuldades. Mas encontrei irmãs que me ajudaram a superar e enxergar a presença de Cristo acolhendo-me em Seus braços. Jesus é o centro da minha vida. Encontro muitas maravilhas dentro da minha comunidade e na vida fraterna. Tenho uma vontade de caminhar cada dia melhor do que outro. Sei que tropeço pelo caminho. Se caio, procuro logo levantar-me. A Sua Graça é maior, dá-me ânimo, coragem e força. Sou feliz, muito feliz...
"Quem ama tem presa de manifestar seu amor.""Mil vezes sou feliz e por tudo dou graças a Deus".
(Madre Teresa de Saldanha)