História da Congregação

Esta congregação surgiu em Portugal numa época caracterizada pelo descontentamento da população face aos diversos acontecimentos iniciados na primeira metade do século XIX, como as lutas liberais e a extinção das ordens religiosas em 1834 e, mais tarde em 1862, com a expulsão das Irmãs da Caridade Francesas, que levaram a uma crise profunda na Igreja.

A necessidade de restabelecimento da Igreja em Portugal e de renovação da vida religiosa e a falta de assistência às camadas sociais mais desprotegidas que viviam em situação deplorável, chamou a atenção de Teresa de Saldanha que se empenhou em fundar, uma congregação portuguesa de Irmãs Terceiras Dominicanas, independente de qualquer convento estrangeiro, vocacionada para a educação de crianças pobres e ricas, para a prática da misericórdia e para o auxílio de doentes ao domicílio.

SãoDomingos
São Domingos

 

A escolha da Ordem de S. Domingos para perpetuar o seu trabalho foi determinada sem hesitações, não fosse Teresa provir de uma família tradicionalmente devota a S. Domingos e aos santos da sua Ordem, ter sido formada na escola espiritual dos Padres do Corpo Santo e ter tido formação no serviço da misericórdia através de sua mãe.

A aventura começou no dia 1 de Outubro de 1866 com a realização do 1º Capítulo da Ordem Terceira de S. Domingos em Lisboa, que antecedeu a partida das duas primeiras irmãs, a 7 de Novembro, para um Convento da 2ª Ordem na Irlanda, onde iriam realizar a sua formação religiosa com o objectivo de integrarem a nova congregação. Teresa, impossibilitada de se dirigir a este país para realizar o Noviciado, enviou as irmãs Harriet Martin (inglesa a viver em Lisboa) e Maria José de Barros e Castro (portuguesa) para se prepararem durante cerca de 15 meses; e em 25 de Fevereiro de 1868, as irmãs fizeram a Profissão Religiosa. Depois estagiaram em casas de assistência e hospitais das Irmãs da Caridade, naquele território.

 

Quando regressaram a Portugal, em 13 de Novembro do mesmo ano, as então irmãs Maria Madalena e Maria José, ingressaram na primeira Casa Mãe da congregação, a Casa de S. José, situada nas Portas da Cruz, Bairro de Alfama, em Lisboa, onde assumiram a direcção de uma das escolas da Associação Protectora das Meninas Pobres. Esta casa tinha sido alugada para transferência da sede da Associação por Teresa, com a ajuda da sua cunhada a Marquesa de Rio Maior, referida por Frei Bento Domingues, O.P. como "verdadeira co-fundadora" da congregação, numa conferência proferida em 1988 (NICOLAU, Ibidem, p. 334).

SantaCatarinaSena
Stª Catarina Sena

 

Foi assim que Teresa fundou, em sigilo, a Congregação Portuguesa das Irmãs Dominicanas de Sta. Catarina de Sena, à sombra da Associação Protectora das Meninas Pobres, que se rege pelo carisma Dominicano: oração, vida fraterna em comunidade, estudo e apostolado. Em 1871 foi aberto em Portugal nessa mesma casa o Noviciado, apesar de orientado por duas monjas do Convento de Drogheda, na Irlanda - Madre Maria Catarina de Ricci e Madre Maria Ângela - que ocuparam os cargos de Prioresa e de Subprioresa e Mestre de Noviças, respectivamente, e que permaneceram em Portugal durante dois anos. À medida que a congregação se estabelecia, organizava e crescia, o espaço tornava-se cada vez mais pequeno para albergar tantas irmãs.

 

Em 4 de Abril de 1877, com os bens que Teresa herdara, por morte do pai, e através de um empréstimo a dez anos, comprou em hasta pública o palácio e a quinta de S. Domingos de Benfica, onde passou a residir e a orientar a congregação e onde fixou a Casa Mãe, o Noviciado, um colégio e, anos mais tarde, uma escola gratuita para crianças pobres. Desde essa data e até 1910 professaram aqui duzentas e cinquenta irmãs. Foi igualmente em 1877 que abriu o primeiro asilo para invisuais na sede da Associação de N. Sra. dos Aflitos, Convento dos Cardais, em Lisboa. No ano seguinte, Teresa conseguiu licença do governo para ocupar alguns antigos conventos de Dominicanas Contemplativas em extinção, onde abriu escolas gratuitas para crianças pobres, dispensários e asilos, entre outros.

Em 1887 foi realizado o 1º Capítulo Geral da Congregação, ficando eleita a Madre Teresa de Saldanha como Superiora Geral. Em 1889 Teresa viu finalmente a sua obra consagrada pela Igreja e espalhada por todo o país: em 27 de Janeiro o Patriarca de Lisboa aprovou as primeiras constituições; em 11 de Setembro de 1889 o Papa Leão XIII emitiu o decreto de louvor e de aprovação da congregação; em 18 de Dezembro de 1899, pelas mãos do mesmo patriarca, as constituições e, em 9 de Janeiro de 1900, a aprovação definitiva da congregação e constituições (estas últimas iniciadas em 1884, apresentadas à Santa Sé em 1888 e revistas ao longo dos anos, datando a última de 1987, pós-Vaticano II).

Mas o instituto atravessaria períodos de grande tensão com a perseguição movida às casas religiosas com a aplicação do decreto de 10 de Março de 1901, o que obrigou ao registo da congregação como associação religiosa, à apresentação dos "Estatutos da Associação das Irmãs Terceiras de S. Domingos", aprovados a 18 de Outubro e publicados a 21 do mesmo mês. Foi nessa época que a Madre Geral, como carinhosamente era chamada, escreveu para o Correio Nacional com o intuito de informar o público do trabalho que a congregação desenvolvia:

"O fim das Irmãs Terceiras Dominicanas é ministrar às meninas ricas e pobres o ensino primário e secundário; exercer a caridade em Asilos, hospitais, Sanatórios, Refúgios e outros estabelecimentos de caridade que possam fundar, administrar ou servir em conformidade das leis do País"
(THIAUCOURT, Ibidem, p. 642)

Apesar destas ocorrências em Portugal os números não pararam de crescer: Em 1901 nas 11 casas espalhadas por Aveiro (1), Braga (1), Lagoa (1), Leiria (1), Lisboa (4), Setúbal (1), Porto (1) e Santarém (1) contavam-se 123 irmãs e, em 1906, o número cresceu para 134 irmãs. Em 1909 Teresa revelou os números do instituto ao cardeal protector da congregação: 50 617 crianças cegas e arrependidas estavam sob a sua direcção.

Mais tarde, em 1910, a implantação da República teve como consequência a expansão da congregação, com a expulsão das irmãs e o encerramento da maior parte das casas, sendo apenas poupadas a Regeneração de Braga e o Asilo de Cegas, em Lisboa. Enquanto em Portugal as irmãs continuaram discretamente a sua acção ao lado de Teresa, já idosa, e assumiram a orientação do Sanatório de Sant`Ana, na Parede, no estrangeiro, as irmãs refugiadas que voltaram para os seus países de origem iniciaram missões e instalaram novas comunidades na Bélgica, no Brasil e nos Estados Unidos da América em 1911 e, em Espanha, em 1913.

Se a intenção da revolução era acabar com a obra de Teresa de Saldanha, pelo contrário, foi causa da sua expansão. Teresa continuou a comandar as operações, a partir de uma casa que alugou na Rua Gomes Freire em 16 de Janeiro de 1911, e que se tornou a sede da congregação até 1916. O instituto continuou a florescer além fronteiras e sucediam-se as jovens interessadas em ingressar na vida religiosa; para esse efeito foi fundado em Salamanca, Espanha, um Noviciado e um colégio em 15 de Agosto de 1913, para onde se transferiu a Casa Mãe em 1916 e que perdurou até aos fins de 1928. A partir dessa data o Noviciado e a Casa Mãe foram transferidos para Braga, onde permaneceram até 1941.

Fora do país a acção da congregação e das irmãs continuou: na Bélgica apoiaram órfãos e soldados durante a 1ª Guerra Mundial e depois retiraram-se; no Brasil foram abertas novas casas; em Espanha, à semelhança da Bélgica, voltaram para Portugal e estabeleceram novas casas; em 1952 nos E.U.A. a grande barreira linguística e cultural deu origem à instituição de um ramo distinto e autónomo, apesar de seguir o mesmo carisma da fundadora - a Congregação de Vida Apostólica, Dominicanas de Kenosha -, no estado do Wisconsin, conhecidas como Irmãs Dominicanas de Sta. Catarina de Sena de Kenosha.

SantaCatarinaSena
Stª Catarina Sena

 

Em Portugal, depois de acalmados os ânimos republicanos e anti-clericais, foi aberta em 1914, no Porto, uma escola para crianças pobres e um pensionato para senhoras. Em 1932 nasceu um novo ramo de contemplativas que partiu do desejo manifestado por quatro religiosas de reintroduzirem a vida contemplativa dominicana em Portugal; após realizarem o Noviciado em França no Mosteiro de Prouille, fundaram em Portugal um Convento da 2ª Ordem, o Convento da Divina Eucaristia no Porto, transferido para Lamego em 1995 e integrado hoje nas Dominicanas Contemplativas. Entre 1941 deu-se a transferência da sede de Braga para Sintra, para a Casa de S. José, Quinta do Ramalhão, onde foi fundado um colégio feminino.

 

 

A partir de 1959 a congregação expandiu-se para novos países e foi iniciada a Missão Ad Gentes em Angola e Moçambique e, mais recentemente, em 1999, na Albânia, em 2004 em Timor Leste. Em 1969 deu-se uma descentralização com a criação de três Províncias autónomas, unidas através da Madre Geral e das constituições: Província de N. Sra. do Rosário, Província de Sta. Cruz e Província de S. Domingos. Em 1978 a Casa Mãe passou para a Casa de S. Domingos do Santíssimo Rosário, em Fátima, onde permaneceu até 1984, quando foi transferida novamente para a Casa de S. José, Quinta do Ramalhão, em Sintra.

A Casa Mãe da congregação voltou para S. Domingos de Benfica, Lisboa, em 10 de Junho de 1991, depois do governo ter cedido, mediante um Acordo, e apenas numa pequena parte, a casa que tinha sido retirada na totalidade em 1910, quando foi ocupada por serviços do Ministério da Justiça.